Os ossos do Ócio
Faço de tudo para ser uma pessoa pró-ativa. Os meus dias são preenchidos, equilibrados e diversificados. Tenho o meu trabalho no qual me empenho e tento ser melhor a cada dia que passa, para não desiludir quem tenho à minha frente, tenho a minha família com quem não tento nunca falhar e depois tenho as minhas atividades que preenchem o resto do meu dia. Assim, tento praticar exercício três vezes por semana, corro à volta de seis quilómetros agora no inverno. Não vou dizer que corro por gosto. Estaria a mentir se o fizesse. Corro porque me faz sentir bem e porque adoro a sensação de terminar mais uma corrida e ter atingido mais um objetivo. De seguida, o aconchego de um banho bem quente e o relaxamento que sinto depois também ajudam a que, no dia a seguir, queira repetir. Além disso, ainda que seja recente, tento escrever diariamente neste meu novo diário dos tempos modernos e acompanho os posts dos meus colegas bloggers. Não sobra muito tempo, mas ainda tento ver umas séries e namorar um bocadinho. Os dias são cheios e a cama sabe bem quando lá chego.
No entanto, há dias em que sinto um torpor a nascer dentro de mim e não me apetece fazer rigorosamente nada. As horas custam a passar, as aulas, por mais que me esforce não rendem e a corrida desse dia ainda custa mais a fazer. Nessas alturas, acredito que é a minha costela diletante a dar sinal de si. Só me apetece ficar no sofá, ver dez episódios seguidos de uma série qualquer, jogar mais cinco horas de playstation, ouvir música e ler. No fim, ver dois jogo de futebol seguidos e fazer meia dúzia de apostas.Passei alguns anos assim, em que isto é que era um dia em condições, isto era o que eu gostava de fazer. E sentia-me bem a fazê-lo.
Hoje em dia, não é assim. Até porque não mo posso permitir, há contas para pagar, há uma esposa para manter feliz.
Então, quando me começo a sentir assim meio dormente, a não querer fazer nada e o tempo a custar a passar, encho-me de coragem, ouço duas ou três rockalhadas da minha juventude e ponho o dobro de mim em tudo o que faço: trabalho, casa, corrida, escrita... E espero que passe.