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Trinta por uma linha

Trinta por uma linha

Memento mori

12.11.18 | António Mota

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Poucas expressões têm capacidade para ter tanto impacto nas nossas vidas. A consciência de que somos seres que, mais cedo ou mais tarde, vamos encarar o nosso fim, ao invés de nos deixar abatidos pela nossa vulnerabilidade e finitude, deve-nos libertar dos nossos medos e de tudo o resto que nos limita e nos impede de sermos quem realmente estamos destinados a ser, devido ao omnipresente receio de que isso nos leve a perder o pouco que temos.  

Steve Jobs, afamado cofundador da Apple, refere na sua biografia que foi quando lhe foi diagnosticado um cancro pancreático, ainda que num estado inicial, que se apercebeu do poder desta sentença ao nível da sua vida. O próprio refere que é quando nos apercebemos da brevidade da nossa existência que automaticamente nos comprometemos a não deixar que nada nos impeça de fazermos aquilo que o nosso coração nos diz que tem de ser feito. Por outras palavras, ao aperceber-se da fragilidade da sua vida, autoconsciencializa-se que aqueles limites que constantemente impomos a nós próprios, os receios de perdermos o que temos e que refreiam as nossas intenções mais verdadeiras, mas muitas vezes também, mais temerárias e arriscadas, não fazem sentido porque o que de mais garantido existe é que, mais tarde ou mais cedo, acabaremos por perder tudo. Assim, apercebemo-nos que a única atitude que faz sentido é ouvirmos o nosso coração e agirmos de acordo com o que eles nos diz. 

Marco Aurélio, imperador romano que, de cada vez que alcançava um triunfo e desfilava pelas ruas de roma com o povo a aclamar o seu líder, fazia questão de ter um escravo a seu lado suspirando ao seu ouvido "Memento mori - Lembra-te que és mortal", escreveu nas suas Meditações

Lembra-te sempre de todos os médicos, já mortos, que franziam as sobrancelhas perante os males dos seus doentes; de todos os astrólogos que tão solenemente prediziam o fim dos seus clientes; dos filósofos que discorriam incessantemente sobre a morte e a imortalidade; dos grandes chefes que chacinavam aos milhares; dos déspotas que brandiam poderes sobre a vida e a morte com uma terrível arrogância, como se eles próprios fossem deuses que nunca pudessem morrer; de cidades inteiras que morreram completamente, Hélice, Pompeia, Herculano e inúmeras outras. Depois, recorda um a um todos os teus conhecidos; como um enterrou o outro, para depois ser deposto e enterrado por um terceiro, e tudo num tão curto espaço de tempo. Repara, em resumo, como toda a vida mortal é transitória e trivial; ontem, uma gota de sémen, amanhã uma mão cheia de sal e cinzas. Passa, pois, estes momentos fugazes na terra como a Natureza te manda que passes e depois vai descansar de bom grado, como uma azeitona que cai na estação certa, com uma bênção para a terra que a criou e uma acção de graças para a árvore que lhe deu a vida.

Também nos devemos lembrar constantemente destas palavras. Talvez assim estejamos mais próximos de ter a vida a que realmente aspiramos.

Memento mori!

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