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Trinta por uma linha

Trinta por uma linha

"Deus nos dê muito e nos contente com pouco"

25.01.17 | António Mota

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Questiono-me inúmeras vezes por que razão nunca nos sentimos totalmente satisfeitos. Todos temos os nossos objetivos de vida, alguns de nós sabem muito bem onde querem chegar, mas, no final de contas, quando atingimos a meta, quando alcançamos o número redondo, quando chegamos ao emprego com que sempre sonhamos, parece que não é suficiente e, não tarda nada, estamos de novo a redefinir objetivos. Porque o que temos afinal não é suficiente, porque há sempre quem consiga chegar mais longe e porque nunca deixámos de sentir que, se nos esforçarmos, conseguiremos mais e melhor. 

Não raras vezes, dou comigo a refletir sobre esta situação e apercebo-me que raramente paramos para saborear o nosso sucesso. O nível de ambição é tão elevado, e temos sempre tantas expectativas sobre o que queremos para a nossa vida e para os que nos rodeiam, que, quando alcançamos algo que perseguíamos há muito tempo, nem sequer paramos para agradecer a quem nos ajudou a lá chegar, para refletir sobre o que permitiu que lá chegássemos. Não defendo que a ambição seja algo de negativo e com a qual devemos ter cuidado. Na verdade, tenho dificuldades em lidar com pessoas que não sabem o que querem, nem qual o rumo a dar à sua vida, esperando que lhes caia do céu tudo aquilo que eles vão necessitar. Tenho inclusive um amigo, com quem discuto acesamente este tipo de questões, que diz que vai viver à custa dos pais, até poder viver à custa dos filhos. Definitivamente, também não é esse tipo de pensamento que defendo. Mas, por outro lado, confesso que me preocupa esta constante insatisfação que encontro em mim e nas pessoas que me rodeiam, porque penso até que é algo que tem vindo a evoluir nos últimos anos. É certo que temos a nossa juventude cada vez mais perdida e com so seus horizontes cada vez mais desfocados, mas, por outro lado, temos uma faixa da população cuja ambição não tem limites e que não olha a meios para atingir os seus fins, não se importando de passar por cima de quem quer que seja para que chegar onde quer. 

Ao longo da minha infância e parte da juventude, recordo-me de ouvir a minha avó dizer muitas vezes "Deus nos dê muito e nos contente com pouco" e lembro-me também de não perceber o que ela queria dizer com aquilo. Agora sim, percebia onde ela queria chegar. Do fundo do seu saber de segunda classe, ela sabia que querermos em demasia nunca nos haveria de levar lado nenhum e com este dito, que tantas vezes me repetiu, ensinou-me mais do que muitos professores meus. Ensinou-me a ambicionar o essencial, a refrear os meus ímpetos de querer mais e mais. Repito essa frase muitas vezes para mim próprio e dou comigo a desejar o que toda a gente deseja, mas que para muitos não é suficiente: saúde, trabalho e acordar todos os dias ao lado de quem me faz feliz. 

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