Da arte e outros prazeres
29.01.17 | António Mota

Há algum tempo atrás, ao visitar uma exposição de quadros, vi-me envolvido por um rodopio de sensações que só a arte, e um conjunto restrito de outras coisas, consegue transmitir. Não resisti, e deixei uma pequena nota ao autor dos referidos quadros. Transcrevo aqui essa nota, porque traduz ,de certa forma, a minha maneira de ver e estar na arte:
"A pintura é uma poesia que se vê e não se sente e a poesia é uma pintura que se sente e não se vê."
Com este meu gosto pelas letras que tudo contam e nada dizem, não resisti a este ilustre dito vindo do mestre que foi e ainda é, Da Vinci. Na verdade, não há muito para dizer. Há, isso sim, muito para sentir; os olhos, mal educados, nunca foram bons a falar. De peito feito e coração bem aberto, todas as cores terão um significado, todos os traços serão inconstantemente lineares, todos os tons falarão por si. Daí eu me ter sentido obrigado a referir a poesia, essa irmã gémea da pintura. Ambas, de mão dada, caminham em direcção ao infinito, guiadas pela musicalidade, em busca da perfeição. E é isto que deve guiar a nossa vida, a perfeição, a música, os devaneios do infinito. Só assim somos verdadeiros seres humanos.
O ideal espera por nós, temos que iniciar a procura. Pela sonoridade, pela tonalidade, pelo sabor, um dia lá chegaremos. E nunca, como Ícaro, cairemos. As nossas asas não são feitas de cera.
O ideal espera por nós, temos que iniciar a procura. Pela sonoridade, pela tonalidade, pelo sabor, um dia lá chegaremos. E nunca, como Ícaro, cairemos. As nossas asas não são feitas de cera.
Este texto foi escrito por mim há cerca de dez anos, um período em que estava sob forte influência do Romantismo. Muito mudou, já não acredito em ideiais e perfeições, mas continuo a afirmar que não podemos deixar de os procurar, pois é isso que dá sabor (e muitas vezes insatisfação) aos nossos dias! Só assim não estagnaremos e evoluiremos para seres não perfeitos, mas consistentemente melhores.