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Trinta por uma linha

Trinta por uma linha

O que é isso da felicidade?

03.03.17 | António Mota

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Aquilo a que chamamos felicidade consiste na harmonia e na serenidade, na consciência de uma finalidade, numa orientação positiva, convencida e decidida do espírito, ou seja, na paz da alma.

Thomas Mann

 

Quantas e quantas vezes a humanidade se questionou acerca do que é ou em que consiste a felicidade humana? Muitas são as propostas de resposta, muitos são os que apresentam as suas teorias. No entanto, séculos e séculos depois, continuamos a não encontrar uma definição que seja unanimemente aceite, continuando este a ser um conceito vago e alvo de muitas disputas. Uns afirmam que se não pensarmos muito nesse assunto, senão andarmos constantemente a questionarmo-nos acerca da nossa felicidade, isso significa que somos felizes. Eu, por outro lado, que me questiono obsessivamente sobre quase todas as questões existenciais, não concordo. Considero-me uma pessoa feliz, ainda que não consiga definir concretamente o que é a felicidade e passe uma quantidade razoável de tempo a pensar nela. 

Um destes dias, dei de caras com um pedaço de literatura que me deliciou e que me mostrou a resposta a grande parte das perguntas sobre a felicidade. Simultaneamente, foi algo que me serenou e enconrajou porque vai de encontro à minha opinião, não sobre a felicidade em particular, mas sobre a vida em geral. E, com isto, deu para ver, o quanto os pontos destas duas dimensões obviamente se tocam. Como Thomas Mann afirma, não pode haver felicidade sem harmonia, nem serenidade. Ora, eu sou um ser limitado e imperfeito que precisa de ver as coisas no seu lugar para se sentir bem. Por outro lado, se não existir na nossa vida uma finalidade, uma orientação, um objetivo último, tudo o que fazemos no nosso dia-a-dia perde o seu sentido. A minha finalidade e orientação é fornecer todas as condições à minha família para que esta possa ser feliz, é ser um amigo fiel e compassivo, é ser uma pessoa reta e altruísta que troca a ambição da minha mente pela ambição do meu coração. Em suma, o objetivo da minha vida é utilizar as minhas potencialidades ao serviço não da minha pessoa, mas dos que me rodeiam, tornando-os felizes e alcançando eu próprio a felicidade pela satisfação que isso me provoca.

É fácil? Não. Muito frequentemente me deixo ceder às tentações mundanas, ao ter mais e mais, ao querer desmesurado, às expectativas demasiado elevadas, mas também me apercebo cada vez mais rápido que não é aí que encontro a tão desejada felicidade. Apenas encontro uma ambição egoísta e uma insatisfação insaciável. Rapidamente percebo que não é aí que vou encontrar a serenidade e a harmonia de que Thomas Mann falava. Esse estado de espírito só se encontrará quando nos habituarmos a aceitar a nossa verdadeira humanidade, a fraternidade que nos une a quem está junto de nós, as limitações que fazem com que precisemos deles e quando abrirmos as portas da nossa vida à humildade e simplicidade que apesar de não nos garantirem grandes casas, carros e ordenados, garante-nos a tal paz de alma, a tal satisfação que, no final de contas, não são mais que a nossa verdadeira felicidade.

O Elogio da Loucura

02.03.17 | António Mota

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"A chicken is just the egg's way of making another egg."

Por vezes, olho para a nossa sociedade como uma massa disforme com vida própria que anda e consome, que anda e nos consome. Podem acusar-me de ser pessimista, de não ser moralmente emendado. Talvez tenham razão, mas não consigo sorrir quando não me sinto alegre, não consigo ficar quedo e calmo quando vejo que as pessoas se comprazem nesta pocilga de pseudo-valores e ideais em que se tornou a nossa sociedade. Vivem a mentira da sua alegria, vivem a verdade do seu sofrimento. De olhos vendados pelas suas próprias mãos, vivem enganados pela sociedade do mérito e da excelência que alguém instituiu mas que nunca seguiu.
 

Talvez não seja correcto defender estas posições de descrédito, mas há dias em que não consigo perceber como se é tão levianamente enganado, como se consegue viver na ilusão de que se deve ser bom profissional , excelente naquilo que se faz porque é bom para si próprio, ou para o seu ego, seja lá o que isso for. Eu, que dispenso a maioria das opiniões alheias, pois sei que não são dignas de serem ouvidas, eu que detesto tudo o que estiver relacionado com juízos unanimemente aceites, eu que faço questão de vincar a minha diferença, pois só assim me atingirei e serei atingido, limito-me a fazer este elogio da humildade, da simplicidade, enfim, este elogio da sensatez, que aos olhos dos outros não passa de um elogio da loucura.
 
 
Não há necessidade de vivermos a nossa vida por algo que não vale a pena. Temos que nos colocar em primeiro lugar e valorizar apenas o que tem valor para ser valorizado. Um passeio com o silêncio das nossas vozes, uma música que nos fala e nos quer, um poema que nos percebe, uma solidão que nos seduz pela sua companhia. Estas devem ser as nossas prioridades, os nossos intentos. Teremos que ter uma profissão e um papel a desempenhar na sociedade, não nego isso. Apenas afirmo que este deve ser apenas um dos nossos viveres e não o único, total e absoluto.Com isto, não seremos self-made men nem meritocratas, seremos somente nós. E que grande conquista seria, conserguirmos viver sendo unicamente nós.
 

A força dos laços de amizade

01.03.17 | António Mota

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Dou muitas vezes comigo a pensar que isto das relações humanas, nomeadamente no que toca a amizade, tem muito que se lhe diga. É algo complexo, por vezes, até difícil de perceber, e doloroso pelo sofrimento que casualmente nos provoca. Todavia, é, sem dúvida algo muito forte, que nos marca durante toda a nossa vida. 

 

Ora, chego a esta conclusão quando, mesmo passados longos períodos de tempo, como, por exemplo, vinte anos, me continuo a lembrar de coisas que fazia com os meus colegas de infância como se fosse ainda hoje. Alguns desses meus amigos já não estão comigo há muitos anos e ainda assim parece que os conheço como se estivesse estado com eles ontem. Daí eu dizer que a amizade tem de ser considerada algo realmente forte e os seus laços marcantes para que isto aconteça. Só um sentimento assim poderoso nos marca e molda desta maneira, acabando por nos ajudar a definir quem nos tornamos. Assim sendo, e porque eu não me imagino a viver sem o conforto da proximidade dos meus amigos, defendo que devemos valorizar a amizade. Não no sentido literal do tema, porque isso já toda a gente o faz. Devemos-lhe atribuir valor no sentido do que ela representa para nós e para o que, por vezes, não representa para os outros. Devemo-nos preocupar com a nossa amizade em específico, mas também com a dos nossos colegas e dos nossos futuros filhos, assumir que os momentos que passamos com os nossos amigos são dos mais ricos que temos, dos que ficam cravados na nossa memória e cujas histórias um dia contaremos aos nossos netos. A amizade, quando verdadeira e autêntica, é a relação humana mais pura e desinteressada, pois quando existe na sua plenitude, fica-se feliz por dar, sem estar à espera de receber, sentimo-nos em paz por saber que existe alguém que estará de sorriso rasgado quando nós lhe falarmos de qualquer um dos nossos problemas, alguém que pensa em nós tanto quanto nós pensamos neles e que fará tudo o que está ao seu alcance para não nos desiludir. 

 

E, por isso, valorize-se a amizade, ensine-se a ser amigo, estimemos os nossos atuais amigos e prezemos aqueles que o ainda virão a ser, pois são das coisas mais valiosas da nossa vida. 

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